segunda-feira, 6 de abril de 2015

Idoso que vivia como escravo compra casa com indenização

Pedro Haas Lacerda, 67 anos, agora tem uma casa. O idoso, que foi personagem de reportagens do Correio do Povo sobre trabalho escravo, agora vive em uma residência na localidade de Volta Grande, no interior de Rio Pardo. A moradia possui dois quartos, sala, cozinha e uma varanda na lateral, que abriga uma churrasqueira, utilizada com frequência pelo idoso.
A casa é rodeada por um pomar e uma pequena horta, em um terreno de cerca de 360 m². Dali ele consegue tirar sete tipos de fruta – entre elas pêssego, uva, laranja e bergamota – além de aipim, batata-doce e alguns temperos. Com a mudança, o idoso deixou para trás os 29 anos durante os quais foi mantido em situação análoga ao trabalho escravo, na localidade de João Rodrigues, também no interior de Rio Pardo. Período que não foi fácil, relembra o idoso. Ficaram no passado as condições sub-humanas de vida, com a ausência de água encanada e luz elétrica na antiga habitação – que era dividida em três pequenas casas — e a falta do pagamento pelo serviço realizado na fazenda.
Sem banheiro na antiga moradia, Pedro tomava banho em uma lagoa e, para chegar lá, precisava caminhar cerca de 1 quilômetro. Em dias frios, o jeito era correr até a “área de banho” para aquecer o corpo e, ao chegar ao local, deixava a água cobrir até a cintura e se molhava rapidamente, com o auxílio das mãos. E a palavra “privacidade” não entrava nesse enredo.
Agora, não há mais toda essa preparação. O banheiro da nova casa é pequeno, mas tem chuveiro elétrico e água encanada. Apesar de a fiação elétrica estar exposta pelas paredes, criando um emaranhado do box até a porta, Pedro não se incomoda e diz que está “mais que satisfeito” com a casa, que não veio de graça, lembra. O ex-empregador do idoso assinou um Termo de Ajustamento de Conduta no Ministério Público do Trabalho, comprometendo-se a pagar R$ 30 mil pelo dano moral, que foi convertido na compra de uma casa, escolhida pelo idoso.
O local fica próximo da BR 471 e há até uma parada de ônibus perto. Mas Pedro não se arrisca a ir sozinho para o centro de Rio Pardo. Para fazer as compras do mês vai com um antigo vizinho da localidade de João Rodrigues.
Uma nova rotina, com mais conforto
Depois de dois meses da troca de casa, Pedro Lacerda tenta se adaptar à nova rotina. Acostumado com a lida de campo, capinou toda a frente da residência, onde um matagal tomava conta. E colocou abaixo uma Acácia que corria risco de cair sobre a residência. “Imagina eu perder essa casa? Tá louco, né?”, comenta. O tronco foi cortado por Pedro e os pedaços servem para alimentar o fogão a lenha, um dos utensílios deixados na casa pelo antigo dono. Também já havia geladeira, fogão, mesa e utensílios de cozinha. E quem se incomodava por não ter lugar para sentar na antiga habitação de Pedro, depara agora com um sofá largo na entrada da nova residência.
Com energia elétrica, o idoso praticamente aposentou os dois lampiões, usados para se guiar na antiga habitação. Agora, até mesmo o jantar é feito mais tarde, sem risco de não enxergar direito os ingredientes ou o prato pronto. “Agora não tem o problema de comer mosquito ou mariposa junto da comida.”
Mas a nova habitação carece de acabamentos. O chão da sala, da cozinha e do banheiro são revestidos apenas por concreto, sem piso. Já os quartos são cobertos por tábuas de madeira. Pedro diz que quer comprar lajotas e espalhar pela casa para garantir mais conforto “quando sobrar dinheiro”, sem ter muita noção do que pode comprar com o valor da aposentadoria.
Nas paredes falta reboco. No teto da sala é possível ver pequenos buracos nas telhas de zinco. E a chuva? “Não entra água não”, garante Pedro. Nesta nova fase, não esconde a felicidade e chega a abrir as portas dos armários e da geladeira para mostrar que ali não falta comida — como ocorria há pouco tempo. “Agora tem água gelada, vocês querem?”, oferece.
Fonte: Portal In Foco
Postado por: Claudinara Glienke

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